Vício - Vicioso
Vício é tudo o que é contrário às leis naturais e aos deveres.
O uso estabeleceu diferença entre um defeito e um vício. Todo vício é defeito, mas nem todo defeito é vício. Supomos, ao homem que tem um vício, uma liberdade que o torna culpado aos nossos olhos. O defeito comumente é por conta da natureza: escusa-se o homem, acusa-se a natureza.
"O primeiro passo para o vício é colocar mistério às ações inocentes. Quem quer que goste de esconder-se terá, cedo ou tarde, razão para esconder-se. Tenho visto sempre como o mais estimável dos homem aquele romano que queria que sua casa fosse construída de maneira a que se visse tudo o que ali se fazia. “ J. J. Rousseau.
Os vícios não proscrevem abertamente a virtude, e jamais a combatem sob seus verdadeiros nomes. Para ter o direito de persegui-la, eles a substituem por nomes odiosos; afetam ignorá-la, e canonizam os vícios ornamentados com suas aparências. Chamam de imbecilidade, a honestidade e a boa fé; covardia, o perdão das injúrias; pedantismo, à sábia circunspecção; loucura, o desprezo pelo ouro; fraqueza, a generosidade. A ambição desmedida, ao contrário, é transformada em sua boca, e chamada de emulação; a astúcia e a fraude, são habilidade e destreza; a hipocrisia toma o nome de piedade; a duplicidade, o de fina política; o fingimento, os rodeios e a dissimulação, são tidos pelo melhor da prudência; a cólera é tida por sagacidade, prontidão; o orgulho, por grandeza de sentimento; o ardor da vingança, um ponto de honra indispensável; a ferocidade, por bravura.
"O vício deixa como uma úlcera na carne, um arrependimento na alma, que sempre se magoa e sangra a si mesma.” Montaigne.
“É preciso ver seu vício, estudá-lo para revelá-lo; aqueles que o escondem de outrem geralmente o escondem de si mesmos, e não o têm por bastante coberto se o veem. Eles o subtraem e o disfarçam à sua própria consciência.” Montaigne.
"Os males do corpo se mostram, aumentando. Percebemos que se trata de uma rinite, de uma bronquite ou de um entorse.
Os males da alma, ao contrário, se obscurecem, ganhando forças; os piores são os que menos aparecem. Eis porque é preciso com frequência revolvê-los com mão vigorosa, abri-los e arrancá-los das profundezas do nosso coração.” Montaigne.
Há vícios que trazemos ao nascer, que não devemos a ninguém, e que fortalecemos pelo hábito; há outros que nos são estranhos, mas que contraímos. Por vezes nascemos com costumes fáceis, complacentes e com desejo de agradar, mas pelos tratamentos que recebemos daqueles com quem vivemos, ou daqueles que dependemos, rapidamente saímos fora das medidas, e mesmo da nossa natureza. Temos mágoas e uma cólera que desconhecíamos; vemos-nos com outra complexidade; ficamos espantados de nos descobrir duros e espinhosos.
Nada obriga tanto um espírito racional a suportar tranquilamente as faltas que parentes e amigos cometem a seu respeito, do que a reflexão que faz sobre os vícios da humanidade, sobre quanto é penoso ser confiante, generoso, fiel, e ser tocado de uma amizade mais forte que seu interesse. Como ele conhece suas condições, não exige que eles penetrem os corpos, que voem no ar, que tenham equidade. Ele pode odiar os homens em geral, onde há tão pouca virtude, mas desculpa os particulares: ele os ama por motivos mais relevantes, e se esforça para merecer, pelo menos, semelhante indulgência. (Dictionnaire des passions, des vertus et des vices. Tome second. Paris, 1777)