Simpatia
Eis alguns trechos traduzidos do livro Instruções práticas sobre magnetismo animal, por J.-P-.F Deleuze, 1825 – livro citado por Kardec no Catálogo como “O melhor guia sobre a matéria.”
1. Para que um indivíduo aja sobre um outro é preciso que exista entre eles uma simpatia moral e física, como a que existe entre todos os membros de um corpo animado. As simpatias físicas estabelecidas pelos meios que nós indicaremos; a simpatia moral pelo desejo que se tem de fazer o bem a qualquer um que o deseje receber, ou pelas ideias e os votos que, ocupando-se igualmente um e outro, formem entre eles uma comunicação de sentimentos. Quando esta simpatia é bem estabelecida entre dois indivíduos, se diz que eles estão em relação.
2. Assim, a primeira condição para magnetizar é a vontade; a segunda é a confiança que aquele que magnetiza tem em suas forças; a terceira é a benevolência ou o desejo de fazer o bem. Uma dessas qualidades pode suprir as outras até um certo ponto; mas para que a ação do magnetismo seja ao mesmo tempo enérgica e salutar, é preciso que as três condições estejam reunidas.
3. O fluido magnético que emana de nós pode, não somente agir diretamente sobre a pessoa que nós queremos magnetizar, mas pode ainda lhe ser conduzido por um intermediário, que nós teremos carregado desse fluido ao qual imprimimos um movimento determinado.
4. A ação direta do magnetismo cessa quando o magnetizador cessa de querer, mas o movimento impresso pelo magnetizador não cessa por isso, e algumas vezes a menor circunstância é suficiente para renovar os fenômenos que produziu a princípio.
5. A vontade constante supõe continuidade de atenção; mas a atenção se sustenta sem esforços quando se tem inteira confiança em suas forças. Um homem que caminha na direção de um objetivo está sempre atento para evitar os obstáculos, a mover os pés na direção conveniente, mas essa espécie de atenção lhe é tão natural que ele não se dá conta, porque primeiramente ele determinou seu movimento, e reconhece em si a força necessária para continua-lo.
6. A ação que exerce o fluido magnético, sendo relativa ao movimento que lhe foi impressa, essa ação será salutar tanto quanto seja acompanhada de uma boa intenção.
7. O magnetismo, ou ação de magnetizar, se compõe de três coisas; 1º a vontade de agir; 2º um sinal que seja a expressão dessa vontade; 3º a confiança no meio que emprega. Se o desejo do bem não está unido à vontade de agir, poderá produzir alguns efeitos, mas esses efeitos serão desordenados.
8. A emanação do magnetizador, ou seu fluido magnético, exercendo uma influência física sobre o magnetizado, segue-se que o magnetizador deve estar em boa saúde. Esta influência fazendo-se sentir, ao longo do tempo, sobre o moral, segue-se que o magnetizador deve ser digno de estima pela retidão de seu espírito, a pureza de seus sentimentos e a honestidade de seu caráter. O conhecimento desse princípio é igualmente importante para os que magnetizam, e para os que se fazem magnetizar.
9. A faculdade de magnetizar existe em todos os homens, mas nem todos a possuem no mesmo grau. Esta diferença de potência magnética entre os diversos indivíduos, se dá em razão de que uns são superiores aos outros por certas qualidades morais ou físicas. Na ordem moral essas qualidade são: a confiança em suas forças, a energia da vontade, a facilidade de sustentar e concentrar sua atenção, o sentimento de benevolência que o une a um ser sofredor, a força de alma que faz com que se mantenha calmo e que conserve seu sangue-frio em meio a crises das mais alarmantes, a paciência, que o impede de fraquejar numa luta longa e penosa, o desinteresse, que o faz esquecer de si mesmo para se ocupar apenas com o ser a quem está cuidando, e que afasta a vaidade e mesmo a curiosidade. Na ordem física, primeiramente são uma boa saúde, e em seguida uma força particular, diferente da que serve para levantar fardos ou a colocar em movimento os corpos pesados, cuja potencialidade não se reconhece a existência senão pelas tentativas que se faça.
10. Assim, há homens que tem uma potência magnética muito superior à de outros. Em alguns ela é mesmo tal, que em muitos casos eles são obrigados a moderá-la.
11. A virtude magnética se desenvolve pelo exercício, e se faz dela uso com mais facilidade e sucesso quando se adquire o hábito de servir-se dela.
12. Ainda que o fluido magnético escape de todo o corpo, e que a vontade seja suficiente para lhe imprimir uma direção, os órgãos pelos quais nós agimos fora de nós, são os instrumentos mais próprios para os lançar no sentido determinado pela vontade. É por esta razão que nós nos servimos de nossas mãos e de nossos olhos para magnetizar. A palavra que manifesta nossa vontade pode frequentemente exercer uma ação quando a relação está bem estabelecida. Os próprios sons que partem do magnetizador sendo produzidos por uma força vital, agem sobre os órgãos do magnetizado.
13. A ação do magnetismo pode dar-se a bem grandes distâncias, mas só age dessa maneira sobre um indivíduo com o qual se está perfeitamente em relação.