
FRÍVOLO, FRIVOLIDADE (defeito do caráter)
“A frivolidade é o gosto pela bagatela, a marca de pequenez de espírito. Geralmente é tomada pelo lado mau, o que não impede que todas as vezes que uma pessoa está interessada em parecer frívola aos olhos das pessoas que o são, não deixa de afetar muita frivolidade, sendo essa mentira o único meio de ganhar sua confiança e amizade. Existem muitos indivíduos que gostam apenas daqueles que se lhes assemelham, e aos quais sua imaginação quase sempre presta suas boas e suas más qualidades!
A frivolidade tem origens diversas. Nasce da ignorância, que faz com que o espírito, não sendo bastante estendido, não pode estimar o preço das coisas, mensurar o curso do tempo e a duração da existência; ou da vaidade, que quer que, para agradar a cada um e a todos, deixa-se arrastar pelos exemplos que tem diariamente sob as vistas; conforma-se aos usos adotados por aqueles que podem lhe ser favoráveis; adota seus gostos e suas ideias, em uma palavra, torna-se seu servil imitador.
O homem pode, pois, ser frívolo mesmo sem paixões nem vícios, mas por ociosidade ou por interesse. Isto quer dizer que frequentemente, para livrar-se do tédio, ele se entrega cada dia a alguma diversão que logo deixa de ser divertida, e então atira-se às fantasias. A partir daí, passa avidamente de objeto em objeto, sem se deter a nenhum, sem buscar-lhe o valor, sem querer conhecer-lhes as vantagens, o que faz com que seu coração permaneça sempre vazio. Diz-se ainda que se a frivolidade pudesse existir por longo tempo com verdadeiros talentos e o amor pela virtude, ela os destruiria, e que o homem honesto e sensato se precipitaria na inépcia e na depravação.
Felizmente assim não é, e ordinariamente a frivolidade é a partilha dos tolos, dos ignorantes ou dos orgulhosos.
A esse propósito, fazemos notar que o termo frivolidade se aplica igualmente aos homens e aos objetos. Os objetos são frívolos quando não têm necessariamente relação com a felicidade e a perfeição de nosso ser; os homens são frívolos quando se ocupam seriamente de objetos frívolos, e quando tratam levianamente objetos sérios. Essa conduta certamente está ligada à ignorância ou à irreflexão, que podem facilmente ser corrigidas, quando não há um grande desvio de caráter, enquanto que, nesse último caso, a tarefa se torna mais difícil.
Como quer que seja, haverá sempre, para todos os homens, um remédio contra a frivolidade: o estudo de seus deveres como homem e como cidadão. Dizer-lhes quais são esses deveres e lhes inspirar o desejo de cumpri-los, tal deve ser o objetivo e os esforços do filósofo. E não se limitará a isso, mas se esforçará igualmente para levá-los a amar as letras e a filosofia, visto que aquele que as ama torna-se inimigo de tudo o que se relaciona com a frivolidade.
Não falarei da frivolidade simulada, porque quem diz simulação diz disfarce, ou negação da coisa de que se trata.” (Dictionnaire des facultés intellectuelles et affectives de l’ame, 1er vol.)